No teatro pobre, o ator deve compor uma máscara orgânica, através dos seus músculos faciais; depois, a personagem usará a mesma expressão, através da peça inteira. Enquanto todo o corpo se move de acordo com as circunstâncias, a máscara permanece estática, numa expressão de desespero, sofrimento e indiferença. O ator multiplica-se numa espécie de ser híbrido, representando seu papel polifonicamente. As diferentes partes do seu corpo dão livre curso aos diferentes reflexos, que são muitas vezes contraditórios, enquanto a língua nega não apenas a voz, mas também os gestos e a mímica.
Todos os atores usam gestos, atitudes e ritmos extraídos da pantomima. Cada uma tem a sua silhueta própria, irrevogavelmente fixada. O resultado é uma despersonalização das personagens. Quando os traços individuais são removidos, os atores transformam-se em estereótipos das espécies.
Os mecanismos de expressão verbal foram consideravelmente aumentados, porque todos os meios de expressão vocal são usados, desde o confuso balbucio de uma criança muito pequena até a mais sofisticada declamação retórica. Ruídos inarticulados, rosnar de animais, suaves canções folclóricas, cantos litúrgicos, dialetos, declamação de poesia: tudo está aqui. Os sons são intercalados de uma forma complexa, que devolve à memória todas as espécies de linguagem. Estão misturados nessa nova Torre de Babel, no estrondo de pessoas e línguas estrangeiras que se encontram antes do seu extermínio.
A mistura de elementos incompatíveis, combinada com a distorção da linguagem, provoca reflexos elementares. Resíduos de sofisticação são justapostos a comportamentos animais. Meios de expressão “biológicos” são ligados a composições bastante convencionais.
Jerzy Grotowski
terça-feira, 29 de janeiro de 2008
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